Software 2.0 - Open Source: Questões e Razões para a minha Empresa

Este artigo tem por objectivo procurar dar uma perspectiva simples de algumas questões que subsistem no mercado empresarial e cada vez mais também ao nível do mercado residencial, sobre a utilização de software Open Source.
Para começar importa apresentar alguns dados de mercado:
- Hoje quem navega na Internet provavelmente realiza a maioria das suas procuras no Google, logo está a utilizar Software Open Source;
- Hoje quem navega na Internet provavelmente está a navegar num site cujo servidor de páginas Web é Software Open Source (Apache Web Server suporta mais de 60% dos sites mundiais na Internet);
- Hoje quem navega na Internet provavelmente estará a aceder utilizando uma ligação ADSL ou de Cabo, pelo que está a utilizar OpenSource, pois quase todos os modems ou routers funcionam com OpenSource;
E muitos mais exemplos se podia dar…

Há que clarificar e desmistificar um conjunto de questões que muitas vezes subsiste nos pensamentos de muitos gestores de empresas. Questões como:
- Isso do OpenSource é para empresas?
- Isso não são só umas brincadeiras de universitários?
- Mas afinal o que é isso do Open Source?
- Existe suporte às aplicações? E formação?
- Qual é o valor acrescentado que trago para a minha empresa?
Estas são algumas das primeiras questões que surgem quando se começa a abordar o tema Open Source com os gestores e decisores das empresas.

No outro lado da linha, em termos de franca utilização de plataformas OpenSource, estão por exemplo empresas líder de mercado e áreas governamentais como sejam a MorganStanley, Euronext NYSE, Vodafone, Região de Munique, Governo Francês, Governo Holandês, entre muitos, muitos outros.

Acima de tudo, e como costumo dizer “Se a banca aposta num determinado tipo de software, é porque é uma plataforma segura! A banca não quer (nem pode) perder dinheiro!”.

E voltando ao nosso assunto de procurar demonstrar que o Software OpenSource são plataformas empresariais estáveis, irei em seguida procurar responder a algumas dúvidas naturais e a questões de mais valias que estas novas tecnologias poderão trazer às empresas.

As Questões Iniciais

Questão 1 - Software Aberto = Software Gratuito?
Não! Em primeiro lugar esclarecer de onde vem esta confusão típica. Simplesmente da interpretação da palavra inglesa “Free”, tal como “Free Beer” e “Beer Free”. Isto é, o conceito que inicialmente foi dado a este género de Software foi de “Free Software”, que pretendia referir-se a “Liberdade de Escolha” e não a “Software Gratuito”. Por esta questão e naturalmente por existirem algumas tendências mais radicais de adeptos de software 100% gratuito, nasceu o conceito de Open Source, que quer precisamente referir que é Software cujo código de desenvolvimento se encontra disponível a todos.

Neste ponto não me alongo muito mais, pois existe um elevado conjunto de preceitos legais ligados a tipos de licenças deste tipo de software e de questões ligadas a propriedade intelectual que nos ocupariam certamente algumas páginas. Para quem tenha curiosidade por este tema mais legal dos tipos de licenças, aconselho o livro de A.M.S. Laurent, Understanding Open Source and Free Software Licensing, O'Reilly Media, Inc.(2004).

Questão 2 - Quem dá Suporte? E Formação?

O mercado de Software Open Source está altamente profissionalizado! Porquê? Porque as Empresas assim o exigem, isto é, se não houver um suporte empresarial ao software não poderá haver credibilidade empresarial.
Nesse sentido empresas como RedHat, SuSE, SugarCRM, Concursive, Optaros, Compiere, EnterpriseDB, MySQL, SugarCRM, Scalix, KnowledgeTree, entre muitas outras e já contei mais de 100, formaram-se para dar suporte empresarial ao software que distribuiem no mercado, aos quais as empresas subscrevem esses serviços.

Este tipo de empresas está actualmente em grande crescimento, pois o mercado cada vez mais está receptivo a este software, mas também porque um conjunto cada vez maior de Venture Capitals investe nelas, o que lhes permite também crescer em recursos e apostarem em marketing e promoção das suas soluções.

Questão 3 - Open Source quer dizer Linux? Significa que vou substituir tudo o que é Microsoft?

A resposta a estas duas questões é um “redondo” não! O Linux é um sistema operativo que foi, talvez, o primeiro grande sucesso deste processo de desenvolvimento de software Open Source e por isso ainda há este rótulo.

O Software Open Source é hoje muito mais do que software base de infra-estrutura e plataformas de redes empresariais. O Software Open Source elevou há alguns anos o seu nível de sustentabilidade de longo prazo, isto é, alcançou o nível aplicacional das empresas crescendo para soluções de CRM, ERP, Gestão Documental, Platformas Colaborativas, entre muitas outras. Com isto, o Software Open Source é utilizado pelos vários colaboradores, parceiros e clientes das empresas com os mesmos ou melhores níveis de usabilidade e de funcionalidade que as aplicações anteriores e mais tradicionais.

Por fim e em relação à questão de “Substituir tudo o que é Microsoft?”, há que referir que o software Open Source tem a vantagem de estar disponível em praticamente todas as plataformas de Sistema Operativo (Windows, Unix, Linux, Mac, etc.). Por exemplo, para quem é adepto incondicional de ferramentas de Office da Microsoft pode continuar a usá-las, porque a maioria dos CRM, Gestores Documentais, entre outros, integram perfeitamente com o MS Office. Esta é precisamente mais uma das vantagens do software Open Source, a sua interoperabilidade com o software já existente nas empresas, facilitando a sua adopção e melhorando a produtividade individual e dos processos gerais da empresa.

As Razões Iniciais

Razão 1 - A Estabilidade nos Sistemas da Empresa

Estabilidade é uma palavra-chave ao negócio. Como costumo dizer, os Sistemas de Informação devem apoiar o negócio e por isso não devem colocar dificuldades, muito pelo contrário, devem servir de potencial de criação de mais negócio.

E porquê plataformas Open Source? Porque é reconhecido que são soluções bastante estáveis e escaláveis a vários níveis. São vários os casos públicos de empresas , como o Citigroup ou o E*Trade, que após terem migrado para plataformas OpenSource tiveram anos seguidos sem quebras no nível de serviço e reduzindo custos de ambientes Unix em mais de 90%, ou outros casos onde conseguiram reutilizar e reganhando capacidade dos seus sistemas Mainframes.

Se procura estabilidade na Operação, as plataformas Open Source poderão ser uma solução. Se procura inovação e rapidez de adaptação a novas dinâmicas de mercado, então também o poderá alcançar com plataformas Open Source.

Razão 2 – Os Modelos de Negócio Open Source adaptados à Empresa

As empresas procuram garantir que não ficam “dependentes” do Fornecedor inicial de uma plataforma. O Open Source garante precisamente essa preocupação natural das empresas, isto é, garante que não só o código fonte é disponibilizado, o que permite a qualquer “um” continuar um trabalho do passado e incrementar-lhe novas e mais funcionalidades, como também garante que existem Fornecedores de Software Open Source que disponibilizam os seus produtos e serviços adaptados à realidade empresarial.

Assim, existem várias empresas que procuraram criar formas de responder às várias necessidades de mercado, pelo que existem vários Modelos de Negócio que estão disponíveis. Alguns deles são:
1- Venda de instalação, serviços e suporte ao software, como seja por exemplo a RedHat;
2- Criação de Modelos de Open Source Comercial, isto é, disponibilização de versões base quaisquer custos e versões mais empresariais com funcionalidades de valor acrescentado e suporte. Exemplos como a SugarCRM, KnowledgeTree e MySQL;
3- Serviços de software de integração na infra-estrutura IT dos clientes (ex: Optaros);
4- Disponibilização de complementos proprietários ao software Open Source de valor acrescentado. Por exemplo, o Scalix Collaboration Suite é uma plataforma que integra o Scalix Mail Server com MS Outlook totalmente;

Com estas e outras formas de Subscrição de Serviços de Software, as Empresas dispõem de uma panóplia de opções que lhes garante não só um plano de Capital Expenses (CapEx) próximo de zero, como de Operational Expenses (Opex) estável e previsível a médio-longo prazo.

Razão 3 – O Open Source traz Inovação e Vantagem Competitiva à Empresa

Quantas vezes já lhe aconteceu na sua empresa querer uma funcionalidade numa aplicação, por exemplo, no seu ERP e o fornecedor desse package de Software lhe dizer que “apenas na versão 25 que sairá no próximo ano” estará disponível? A razão é muito simples, você é um cliente “normal” para o fornecedor do ERP, mas para você essa funcionalidade é crítica e trazer-lhe-ia vantagem competitiva perante a sua concorrência. E agora? Terá de esperar para o ano?

Aqui está um exemplo simples de como o OpenSource tem vantagem em relação a Sistemas Fechados. Isto é, se o ERP fosse OpenSource provavelmente ocorreriam duas situações possíveis:
1- O fornecedor do software dir-lhe-ia que essa funcionalidade apenas estaria disponível para o ano, mas que havia um outro cliente que tinha já essa funcionalidade desenvolvida e que lhe iria disponibilizar esse software para que fosse adaptado à sua realidade;
2- Ou, se ninguém tivesse realmente tido essa necessidade, você poderia desenvolvê-la e depois partilhá-la, vendê-la ou disponibilizar o seu serviço a outros clientes do software;

Este é um exemplo simples de como se cria muito facilmente inovação em ambientes Open Source e a sua empresa pode ser facilmente um elemento activo, na criação de valor para o mercado e para a Inovação.

Conclusão

Como em tudo e apesar deste artigo ser um artigo destinado a desmistificar falsos dogmas ligados ao Open Source, o Open Source não é a solução para tudo.

Há que ter cuidado e não se precipitarem de imediato! Há que perceber fundamentalmente a maturidade do produto e a sustentabilidade da empresa que está a desenvolver a solução base. Relembro que existem pelo menos 250 mil projectos Open Source disponíveis, mas menos de 10% têm verdadeira actividade, isto é, tornam-se mais atractivos e conseguem passar para um nível empresarial.

O Open Source, não sendo o Maná, permite que as empresas não sejam meramente peões Passivos com os fornecedores de Software, tornando-se também elementos Activos no desenvolvimento do seu software. A acrescer da vantagem de não se ficar dependente de um único fornecedor.

Em conclusão, estes factos obrigam todos os stakeholders (Utilizadores, Clientes, Parceiros e Fornecedores) do ciclo de desenvolvimento de Plataformas Empresariais de Software, trabalharem mais e melhor, pois todos necessitam de “andar rápido”.

Estamos na era do Software 2.0 (analogia ao Web 2.0), onde todos têm um papel claramente activo!

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